sábado, 6 de agosto de 2011

Folha Viva

O papel e a caneta.
Inocente folha branca,
fatídica mancha preta.

Certa página arrancada
de um livro aberto,
a história arriscada,
seu destino é incerto.

Esboço uma pintura
copiando o que vejo,
desenho uma gravura,
expresso meu desejo.

Mero decalque
é tudo que consigo.
A vergonha é tal que...
brigo comigo.

A imagem em mim
é sempre assim:

cabeça de religioso,
tronco de nazista,
mãos de criminoso,
coração capitalista,

jeito de menino,
voz envolvente,
sorriso cretino,
caráter deprimente.

Para escapar do fracasso,
quero rasgar-me,
mas não o faço
nem consigo apagar-me.

Indelével escrito
marcado com tinta,
meu espaço restrito,
vida que se pinta.

Como fui cega!
Mil vezes repito.
Meu espírito se entrega
toda vez que as imito.

Viro o inverso,
penso diferente,
um novo universo
nasce em minha mente.

Meu corpo em prosa
transcende o material.
A palavra é poderosa,
determina o final.

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