O papel e a caneta.
Inocente folha branca,
fatídica mancha preta.
Certa página arrancada
de um livro aberto,
a história arriscada,
seu destino é incerto.
Esboço uma pintura
copiando o que vejo,
desenho uma gravura,
expresso meu desejo.
Mero decalque
é tudo que consigo.
A vergonha é tal que...
brigo comigo.
A imagem em mim
é sempre assim:
cabeça de religioso,
tronco de nazista,
mãos de criminoso,
coração capitalista,
jeito de menino,
voz envolvente,
sorriso cretino,
caráter deprimente.
Para escapar do fracasso,
quero rasgar-me,
mas não o faço
nem consigo apagar-me.
Indelével escrito
marcado com tinta,
meu espaço restrito,
vida que se pinta.
Como fui cega!
Mil vezes repito.
Meu espírito se entrega
toda vez que as imito.
Viro o inverso,
penso diferente,
um novo universo
nasce em minha mente.
Meu corpo em prosa
transcende o material.
A palavra é poderosa,
determina o final.
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