sábado, 6 de agosto de 2011

Entre Espelhos

Reflito
por que sou espelho.
Reflito
e ainda sou espelho.
Reflito todas as luzes da história;
além disso, minhas próprias luzes.

As pessoas andam por aí
como se soubessem o que estão fazendo,
como se soubessem o que está se passando.
Como se enganam!

Apenas imagens
é tudo o que vejo.
Cheias por fora,
vazias por dentro.
Ocupam-se das menores necessidades,
seguem à risca modelos há muito ultrapassados,
preenchem suas vidas com nada.
Luzes de estrelas extintas.

Quanto tempo mais perdurará essa encenação?
Estou cansado do palco, dos personagens,
do roteiro e de todo o resto.
Fechem as cortinas,
não há mais público,
somente atores.
Cancelem os espetáculos,
devolvam-me os ingressos.

Será que apenas eu quero ser eu?
De que me serve a identidade de outros?

Imitar é deixar de ser o que é
para ser o que nunca será.
Não há um eu nem um tu, nem um ele,
muito menos, um nós.
Não há nada nem ninguém.

Espelhos, o que pode ser mais importante do que nós?

Assim que eu sair, ó espelhos,
deixarei a luz acesa.
Reflitam-na.

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