sábado, 19 de dezembro de 2015

Crônicas da Prisão

Diário de um cativo.
Primeira linha:
Preso e vigiado, como sobreviver?
Segunda linha:
Diariamente, seja um fugitivo.

Quando se está cercado
e não lhe resta outra opção,
é preciso aprender o quanto antes
as regras da prisão.
Nada pode ser ignorado.

Vá a todos os lugares,
observe atentamente.
Dissimulando seus pensamentos,
ninguém lê sua mente.
Não evite os olhares.

Mesmo indesejáveis,
aprenda a iludi-los –
como um mágico,
use truques para distraí-los –
porque são inevitáveis.

O castigo é certo
se tudo não for perfeito,
pois há sempre alguém vigiando
em busca de qualquer malfeito.
A fiscalização é de perto,

e a patrulha nem sempre é notada.
Misturados entre os presos, disfarçados,
pode ser qualquer um,
amigos, namorados.
Só a polícia atua fardada.

Por isso, atenção.
Não perca a calma.
Se o corpo é prisioneiro,
mantenha livre sua alma.
A fuga é uma invenção.

E a prisão? A prisão é uma soma,
o resultado de tudo o que se dá,
de todos os acontecimentos históricos,
de todos os conflitos que há.
É tudo aquilo que nos toma,

que nos separa
ou que nos destrói.
De outro modo, se lhe interessa,
se torna aquilo que nos constrói
ou que nos repara.

Nela, tem o que é meu
e o que não deve ser.
É tudo o que nos cerca.
A prisão é você.
A prisão sou eu.