segunda-feira, 9 de março de 2015

Pobre borboleta

A cobra,
o sapo,
a aranha
e o rato

iniciaram, de forma mansa,
uma mortal dança.
Saboroso ritual
do mais tenebroso mal.

Bem fundo na escuridão,
a cobra começa o trabalho
com seu traiçoeiro chocalho.
Terrível canção.

O sapo asqueroso
pula, incha, coaxa
no chão pedregoso
(loucos movimentos
de impulsos violentos).

Em seguida, a aranha inicia
sua estranha magia
- tecendo o fio
de seu coração vil.

O rato, a tudo observando,
lentamente vai se aproximando,
percorrendo o labirinto
com seu olhar faminto.

Uma borboleta desgraçada
é trazida como que por encanto.
Fora atraída pelo sinistro canto.

Aprisionada
numa estaca torta
breve estará morta.
Enredada na teia,
será a ceia.

O medo lhe toma;
as asas contrai;
a consciência se esvai.
Entra em coma.

Nada pode fazer,
senão temer
e rezar
para o fim logo chegar
e morrer
sem muito sofrer.

A pior ou a melhor morte
quem determina é a sorte.
E, quando o mal é tal que não se pode evitar,
só nos resta aceitar.

Pobre borboleta!

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